terça-feira, 30 de junho de 2009

Violência na Escola ou Equívocos de compreensão?


Fantástico o texto da professora e doutora em Educação Jaqueline Picetti Significações de violência na Escola: Equívocos da compreensão dos processos de desenvolvimento moral na criança?

Achei este parágrafo o mais relevante:

"Seria importante a escola inserir em seu contexto o respeito pelo processo de desenvolvimento moral, não tachando mais certos comportamentos como violentos, mas como características de uma determinada fase da construção da autonomia da criança, pois, para que o sentimento de justiça se desenvolva, são necessários o respeito mútuo e a solidariedade entre as crianças e os adultos."

Debatendo com várias colegas, a maioria a favor da sábia colocação, chegamos ao comum acordo: Como nenhuma de nós, professoras, havíamos pensado nisso? Se nosso aluno constrói seu conhecimento, passando por evoluções em seu nível de escrita, se seu processo de aprendizagem passa por diferentes estágios de desenvolvimento, como não seria da mesma forma a construção da moralidade e, consequentemente, da não violência?

Na última sexta-feira, na hora da rodinha, adaptei para contar aos meus alunos aquela história de Piaget:
“Um menino, que se chama Jean, está em seu quarto. É chamado para jantar. Entra na sala para comer. Mas atrás da porta há uma cadeira. Sobre a cadeira há uma bandeja com quinze xícaras. Jean não pode saber que há tudo isso atrás da porta. Entra: a porta bate na bandeja e, bumba!, as quinze xícaras se quebram.
b) Era uma vez um menino chamado Henri. Um dia em que sua mãe estava ausente, foi pegar doces no armário. Subiu numa cadeira e estendeu o braço. Mas os doces estavam muito no alto e ele não pôde alcançá-los para comer. Entretanto, tentando apanhá-los, esbarrou numa xícara. A xícara caiu e se quebrou” (p. 107)

Contei da seguinte forma:
"Tia Natalina (uma das cozinheiras da escola) ia levando em uma bandeja as 15 xícaras para o café das professoras. Um menino veio correndo e esbarrou nela sem querer e a bandeja virou, quebrando-se todas elas. Tia Natalina limpou tudo, voltou e trouxe novamente outras xícaras. Um outro menino, passando por ela, pegou uma xícara da bandeja e jogou no chão com força, quebrando a xícara. Mais tarde, tia Natalina contou para a diretora tudo o que havia acontecido. Qual dos dois meninos a diretora irá castigar?"
Eu tinha lido, eu tinha estudado, mas talvez não tivesse acreditado em qual seria a resposta. Dos meus 21 aluninhos de 6 e 7 anos, alguns ficaram em silêncio pensando, mas apenas um respondeu que a diretora iria castigar o menino que quebrou uma xícara só, porque ele o fez propositalmente e que o outro menino tinha quebrado as 15 sem querer! Meus outros alunos que responderam, disseram que a diretora ia castigar o que virou a bandeja toda, pois este havia quebrado todas as xícaras!

Pude realmente constatar que os alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental estão construindo as noções de justiça, solidariedade, intencionalidade e responsabilidade, como nos diz o texto. Eles se detém pelo prejuízo material e não pela intenção da ação, como vimos em nosso material de estudos. É primordial que nós, professores, estejamos sempre atentos aos acontecimentos durante esta preciosa construção, pois deveremos intervir sempre que necessário, para podermos auxiliar nosso aluno a refletir sobre as diferentes situações vivenciadas na escola e também fora dela.

Saber sobre as regras do jogo me auxiliou muito também em minha sala de aula na Educação Especial:
"Em termos da consciência da regra do jogo:
1 - não há regra;
2 - a partir de mais ou menos 6 anos a regra é intangível e sagrada;
3 - a partir dos 11 anos, aproximadamente, a regra é compreendida como uma convenção, que resulta do consentimento dos envolvidos e que pode ser modificada por consenso."
Vi que, embora a idade cronológica dos meus alunos com deficiência mental não seja essa, eles também passam por esta evolução, e eu não estava entendo a passagem da etapa 2 para a 3 como tal; pensava que meu aluno estava regredindo em sua aprendizagem! As vezes, nem tudo é como nós achamos. Aí consiste a importância em estarmos estudando e aprendendo.

Em minha opinião, esta foi uma das aprendizagens mais ricas que vivenciei neste semestre!

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